Na cosmologia tradicional chinesa, observam-se cinco etapas no movimento da energia. O Fogo representa a fase em que a energia se expande até ao seu auge. Quando olhamos para uma flor, por exemplo, vemos nela a fase Fogo, já que é a planta que na sua plenitude se abre à fecundidade, em formas e cores atractivas. O Fogo é enérgico, quente, luminoso, rápido, convidativo e transformador. Esta energia está muito forte nos meses de Maio e Junho (no hemisfério norte) em especial no Solstício de Verão, em torno do meio-dia, ou nos períodos de lua cheia. Todos estes são momentos de maior luminosidade e visibilidade dentro dos respectivos ciclos. O Fogo traz justamente luz, permite-nos ver, trazendo clareza, compreensão e lucidez. Com o seu brilho o Fogo também orienta, inspira e motiva. E claro, o Fogo traz o calor, que nutre e possibilita a Vida: o Sol é a energia Fogo basilar. Entretanto todas as fontes de luz e calor são formas de energia Fogo: magma, fogueiras, velas, e também a electricidade. A um nível mais simbólico o Fogo manifesta-se nas formas triangulares e excêntricas (isto é que se desenvolvem de dentro para fora) como as estrelas ou as flores, e em cores intensas como o vermelho, o fúcsia ou o púrpura. O Fogo é uma energia tremendamente social e relacional. O calor humano é energia Fogo, conversar e rir é energia Fogo, a paixão e o desejo sexual são energia Fogo. O Fogo pode manifestar-se também como o ideal ou o mote que reúne as pessoas, que agrega e inspira. Por outro lado, assim como une, o Fogo também pode separar: discussões acesas são Fogo, a agressividade explicita é Fogo. O Fogo representa o ápice de uma situação, o momento em que tudo se torna mais visível e se transmuta nesse processo. À luz do Fogo vemos e somos vistos, pelo que esta fase está ligada ao reconhecimento e à fama. Como lidamos com a opinião dos outros tem tudo a ver com esta energia em nós. Muitos de nós fazem tudo o que está ao seu alcance para serem apreciados, ficando dependentes do reconhecimento externo. Outros de nós, evitam a “luz do holofotes”, temendo a rejeição, o serem “queimados em praça pública”. Claro que nem todos nós vivemos absolutamente num polo ou no outro. Entretanto, se a nossa auto-aceitação e auto-reconhecimento estão pouco desenvolvidos (ou seja, se a nossa auto-estima deixa a desejar!), tendemos para um para outro comportamento (ou de alguma forma para ambos!), manifestando algum desequilíbrio na fase Fogo. (Nota: Vale lembrar que não existe equilíbrio perfeito na Vida, já que esta é constante movimento! Mas se há algum padrão que traga sofrimento e insustentabilidade à nossa vida, então faz sentido mudar algo…) O FOGO NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) Antes de me lançar no próximo parágrafo devo advertir que esta é apenas uma pincelada sobre o Fogo na MTC. Um/a terapeuta de MTC poderá fazer o diagnóstico da condição da tua energia, inclusive da qualidade Fogo. Ainda assim faz-me sentido falar um pouco do Fogo no corpo, até para ficares com mais atenção a sinais que o teu corpo te dê. Segundo a MTC o Fogo rege o coração, o intestino delgado e o metabolismo (triplo-aquecedor), e é importante também na circulação sanguínea. Logo perturbações num destes órgãos ou sistemas representa algum desequilíbrio em Fogo (e geralmente não apenas, porque os desequilíbrios tendem a ser sistémicos). Destes quatro quero destacar o coração, porque nesta visão é mais do que o bombeador de sangue: o coração é aqui olhado também como o centro das emoções e da mente. Portanto a desregulação emocional recorrente, que tende a afectar a clareza de raciocínio e a tomada de decisões, revela desequilíbrios em Fogo. E isto quer o Fogo esteja “fraco” ou “forte demais” (sendo que os sintomas variam, claro). Em MTC considera-se ainda que o “fogo” pode surgir como um factor patogénico interno, quando se manifesta em excesso e/ou “fora do lugar”. Por exemplo, se aparece “fogo no fígado” a pessoa tende à fácil irritabilidade, comportamento explosivo e até agressivo. Sobre o fogo em excesso há que ficar atento também a insónias recorrentes, a dificuldades de concentração, ou a grandes flutuações emocionais, já que as manifestações de excesso de Fogo facilitam o desgaste energético generalizado. Lembro aqui que a energia Fogo saudável é vital. Ela expressa-se na nossa energia e disposição, na nossa alegria de viver e na nossa capacidade de nos deixarmos inspirar e motivar. Sem ela sentimo-nos apáticos, sem energia ou vontade de agir ou de participar no mundo de que somos parte. O FOGO NA CASA Existem várias formas de cuidar da nossa energia Fogo, que podem incluir o ritmo de vida, o exercício físico, as práticas meditativas, a alimentação ou algum apoio terapêutico. Uma outra forma que também nos ajuda (sem substituir nenhuma das que acabei de referir!) é cuidar da influência do nosso ambiente na nossa energia. Em várias culturas tradicionais o Fogo é essencial para uma construção se tornar habitável: sem ele o espaço é escuro, frio e não é possível cozinhar os alimentos. Para cuidar da energia Fogo na casa há que olhar e equilibrar, antes de mais, as suas manifestações mais físicas: a luminosidade, a temperatura, o sistema eléctrico, o funcionamento de lâmpadas, de electrodomésticos, do fogão e do forno, e também da lareira, se existir. Existem também manifestações mais simbólicas de Fogo, que passam pelos materiais, formas, cores e imagens – mas o recurso às mesmas só faz sentido observar numa segunda etapa, em função das características e necessidades dos habitantes e da casa. Se os habitantes já têm excesso de Fogo, por exemplo, tende a fazer menos sentido “suplementar” através da decoração. Ao mesmo tempo, se a casa mesmo com uma boa temperatura e luminosidade é sentida como “fria e inóspita”, ganha em receber alguma cor, para se tornar mais animada, acolhedora e inspiradora. Gerir a energia Fogo na casa pode passar por gerir também outras dinâmicas. Por exemplo, se uma casa é sombria e húmida ela tem pouco Fogo ou muita Água? Ou ambas? O que buscamos é uma visão ampla e o ajuste do nosso ambiente às nossas necessidades. Outro exemplo é uma casa onde há habitantes com Fogo em desequilíbrio (sendo, por exemplo, muito impulsivos) – em situações destas os habitantes ganham em evitar a acumulação e o excesso da transformação Terra. Isto porque quando a fase Terra está em excesso o Fogo não consegue fluir tão facilmente, sendo mais fácil haver “explosões” (que se podem traduzir em quezílias e discussões, por exemplo). Mais uma vez se busca o equilíbrio e fluidez geral entre as diferentes manifestações de energia. Outro aspecto importante na gestão do Fogo na casa é observar a estação do ano. No Outono e no Inverno faz sentido reforçar um pouco a sua presença para compensar algum excesso de Metal e de Água, respectivamente. Mas na Primavera já pode ser melhor abrandá-lo para que não consuma a energia Árvore. E no Verão é interessante aproveitar a sua energia quente e seca (para grandes limpezas, por exemplo), moderando naturalmente qualquer excesso de Fogo que torne a casa desconfortável. O sector regido pela energia Fogo é o sector Sul e a divisão em que esta energia se encontra mais presente é a cozinha (independentemente do sector geográfico em que se desenvolve). Se isto significa que o sector Sul e a cozinha são zonas da casa que acolhem bem o movimento Fogo, também significa que são zonas onde convém manter a moderação do mesmo, por uma questão de equilíbrio. Isto de modo geral, porque cada casa é um caso: é em contexto de consulta de Feng Shui ou de Harmonização de Ambientes que se pode definir medidas mais acuradas. Em contexto de consulta é possível, por exemplo, determinar os locais onde a vibração Fogo é particularmente benéfica e os locais onde a mesma deve ser mais moderada. De resto, como vimos, o Fogo é uma energia tremendamente agitada. E se em nossas casas desejamos abrandar, então pode fazer mais sentido incluir símbolos de Fogo de uma forma pontual, como pontos de luz e cor que nos vão iluminando e inspirando. * * * Muito mais poderia ser dito sobre a energia do Fogo nas nossas vidas mas ficará para outros momentos que o texto já vai longo! Por hora convido-te a olhares em ti, no teu corpo, nas tuas emoções, ou nas dinâmicas relacionais em que participas, como sentes esta qualidade energética do Fogo.
Olha também para a tua casa e percebe se sentes que o seu Fogo te nutre ou nem tanto... E se tens vontade de mudar algo nela :-) Se assim sentires, conta-me o que este texto te suscitou. Ou, se for o caso, se te surgiu alguma questão sobre este tema. Podes fazê-lo nos comentários ou enviando-me uma mensagem. E se conheces alguém que se possa interessar pelo que acabaste de ler, partilha! Eu agradeço e acredito que essa pessoa (ou essas pessoas) também! Um grande abraço e até breve!
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