Todos nós sabemos o que é sentirmo-nos com ou sem energia, saúde ou entusiasmo. Nestas e noutras flutuações todos já sentimos diferentes qualidades de Qi em nós – sem lhe darmos este nome, claro. Para além disso existem várias práticas que se baseiam no movimento do Qi, e que apresentam resultados, como a Acupunctura ou a Massagem Ayurvédica, por exemplo. Nestas situações experimentamos o Qi como algo real, não é uma questão de acreditar ou não. O conceito de Qi parte de uma forma de percepcionar e interpretar a realidade, comum a várias culturas orientais tradicionais. Se na nossa cultura não existe este conceito, então a forma mais fácil de o compreender é mergulhar naquelas formas de olhar o mundo e a vida, experimentar esse olhar de alguma maneira, para sairmos desse mergulho com uma visão ampliada. Para “molhar os pés” é interessante olharmos para o ideograma tradicional de Qi (que ilustra este texto). Este ideograma é constituído por duas partes: 气, “Qi”, que se traduz para gás, vapor, emanação, respiração (e é usado para designar Qi em chinês simplificado); 米, “Mi” que significa arroz, ou bagos de arroz, trazendo a ideia de nutrição, de energia. O Qi refere-se portanto a uma emanação energética, a algo imaterial, mas que ao mesmo tempo está em conexão com a matéria. Por outro lado o arroz fumega (emana vapor) quando está ser cozido, quando se está a transformar. Ou seja, a ideia de transformação e de movimento está também implícita no conceito de Qi. A ideia Qi como “energia vital” vem por extensão, como “sopro de vida”. A cosmovisão tradicional chinesa é baseada na observação da Natureza, nos seus elementos, ritmos e fenómenos. E numa realidade onde tudo se move e modifica permanentemente, observa-se como esses movimentos se tocam, influenciam e transmutam. Como se fosse uma dança em que tudo o que existe participa. O Qi é o movimento e a mudança que existe em tudo (mesmo quando parece estar parado). É energia, porque é movimento e gera movimento. É o impulso que conecta tudo, de uma forma holística e sistémica. Não há uma forma ou corpo para o Qi, porque este é um impulso imaterial, metafísico (isto é, para lá do físico), e a sua manifestação física pode acontecer de inúmeras formas. Podemos percebê-lo, por exemplo, no calor do nosso corpo, no ritmo da nossa respiração, no funcionamento de cada órgão e de todo o organismo, ou nas diferentes emoções que sentimos. E tudo isto é influenciado por aspectos como a luz, a temperatura ou a humidade que nos envolve, que em si manifestam fluxos de Qi. Também podemos perceber os movimentos de Qi à nossa volta, por exemplo, no movimento do vento, na força dos oceanos, ou na fertilidade da terra, e todos estes fluxos estão interconectados. De facto, um fluxo harmonioso na teia da Vida reflecte o fluxo harmonioso das forças naturais (por onde Qi flui). A existência do Qi enquanto impulso metafísico é talvez o aspecto mais desafiante para a nossa mentalidade ocidental. Para mais, muitas manifestações de Qi são muito subtis, e apenas aferidas através de abordagens não validadas pelos meios científicos actuais. O que valida estas aferições são os resultados. A Medicina Tradicional Chinesa é talvez o melhor exemplo, porque os seus resultados são amplamente reconhecidos, conquanto os seus processos de diagnóstico e de tratamento não tenham como ser integralmente validados pelos métodos científicos contemporâneos. Simplesmente na visão ancestral chinesa o físico e o metafísico coexistem, são como duas faces da mesma moeda. Uma vez que o Qi muda constantemente a sua manifestação, podemos observar essas mudanças. Por exemplo, podemos sentir as variações da velocidade do vento, ou os cambiantes de cor e intensidade da luz ao longo de cada dia. Ao circularmos no espaço, podemos sentir, por exemplo, a diferença entre cruzar um espaço amplo e um outro mais contido. Podemos também observar estas variações no nosso corpo: para lá de benefícios para a saúde, práticas como o Qi Gong ou o Yôga convidam-nos a um olhar sobre como o Qi circula em nós. E nós podemos transportar este olhar para outros momentos fora da prática. De alguma forma todos percebemos manifestações de Qi, mas podemos aprofundar a nossa percepção para captar níveis mais subtis. E isso passa por, no nosso dia-a-dia, nos mantermos atentos e treinarmos a nossa sensibilidade, intencionalmente. Vale lembrar que a natureza do Qi é metafísica, não é teórica. É algo real, e é na via real, no nosso dia-a-dia, que vamos aprendendo a “vê-lo”, através das suas inúmeras manifestações. Claro que isto não tem nada a ver com “negar” as explicações científicas, amplamente validadas! Tem a ver sim com adoptar outro olhar, complementar até. Tem a ver com sentir o mundo que nos cerca, reconhecê-lo enquanto algo vivo, e sentirmo-nos como parte dessa vida. Integrar experiencialmente o que é isto do Qi virá por extensão. * * * Esta é uma introdução ao Qi, onde procurei mostrar como ele se manifesta, na prática. Há naturalmente muito mais para saber e experimentar sobre o Qi. Para já, se quiseres aprender mais, encontras aqui outros artigos, nomeadamente sobre as polaridades Yin e Yang em que o Qi se manifesta (“Yin e Yang” (em geral) e “Yin e Yang na casa”. Para continuares a testar, experimentar e vivenciar. Como alguns pontos de partida podem ajudar, vou continuando a desenvolver aqui este e outros temas afins. Vou gostar de te ter por perto!
Entretanto, conta-me como o que leste aqui te acrescentou e que perguntas te surgiram. Por exemplo, que fluxos vais reconhecendo? Que impactos vais percepcionando? E depois das observações propostas, surge-te a vontade de mudar algo no teu ambiente? Vou gostar de saber! Grande abraço e bons fluxos!
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