As raízes do Feng Shui estão no período neolítico da China, quando se buscavam os melhores lugares para as comunidades se estabelecerem e prosperarem, em harmonia com as poderosas forças naturais. Feng Shui é uma expressão chinesa que significa literalmente “Vento Água”. É uma expressão metafórica que nos fala do equilíbrio dinâmico entre forças opostas: o vento seca e dispersa, a água humidifica e agrega. Ao mesmo tempo é uma expressão que nos fala de fluxos, da natureza fluída de tudo o que existe. O Feng Shui parte de uma visão física e metafísica da realidade. Esta mesma visão é partilhada por outras práticas orientais, tais como a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) ou as artes marciais (como o Tai Chi e o Kung Fu). Mas se na Medicina ou nas Artes Marciais esta visão está muito direccionada para o corpo e para a energia vital que o anima, no Feng Shui o foco é em tudo o que nos envolve. De tudo emana energia e através de tudo circula energia. Esta energia, seja no corpo seja no nosso entorno, recebe o nome de Qi (lê-se tchi e é muitas vezes grafado Chi). Em Feng Shui considera-se que vivemos imersos num Mar de Qi, do qual fazemos parte. Neste mar existem fluxos e correntes, tal como existem nos oceanos. O que se faz então é, primeiro, observar estes fluxos no ambiente, considerando o tempo e o espaço. E depois são feitas propostas, para aproveitar os fluxos mais benéficos, ou para deflectir (ou para nos desviarmos) de fluxos que nos possam ser nocivos. A ideia é que o ambiente se torne nutritivo e que estejamos alinhados com os fluxos – físicos e metafísicos – que promovem a Vida, em sentido lato. É assim que o Feng Shui favorece a saúde, as relações, as finanças ou o sentimento de auto-realização, só para referir alguns exemplos. O Feng Shui é muitas vezes promovido como uma forma de gerar harmonia no ambiente. Isto é, de nos ajudar a sentirmo-nos melhor num dado ambiente. E isso acontece, mas o Feng Shui é mais do que isso: é uma prática de poder – não de poder sobre o outro, mas de amplificação do poder pessoal e/ou colectivo na própria vida. Contudo quero deixar claro que o Feng Shui não é uma panaceia para todos os males! É uma ferramenta que nos ajuda a aproveitar o melhor possível o potencial energético dos nosso lugares, das nossas casas, espaços de trabalho, comércios, etc. Facilita-nos a vida, mas não se substitui a nós para fazermos o que é preciso para que as coisas aconteçam. Nas linhas de Feng Shui clássico ou tradicional observa-se essencialmente o impacto da energia, do espaço e do tempo, em nós. Já nas abordagens contemporâneas observa-se também o impacto que nós temos nos ambientes. E isto desdobra-se de duas formas: por um lado reconhecemo-nos como co-criadores do ambiente que nos vai influenciar. E por outro lado isto também significa que ao olharmos para as nossas casas olhamos para um reflexo de nós mesmos. A casa torna-se assim num lugar privilegiado de autoconhecimento, e as mudanças na casa podem catalisar a autotransformação. O Feng Shui é muitas vezes comunicado como uma prática onde existem muitas regras, muitos “deve-se” e “não se deve”. Por outro lado, quando contactamos diferentes linhas de prática, identificamos que estas regras não se mantêm igualmente em todas elas, o que naturalmente gera confusão! O que acontece é que cada linha de prática interpreta os princípios de base, e a partir dessa interpretação faz determinadas recomendações. Por exemplo, para algumas linhas de prática o Oeste, por ser o lugar onde “o sol se põe”, tem uma carga pesada, de fim, de morte! Mas há outras linhas que olham para o Oeste como um lugar relacionado com a conclusão de projectos, obtenção de resultados, e até de relaxamento e de ócio criativo! Um mesmo fenómeno inspira aqui duas interpretações completamente diferentes! É importante que fique claro desde já que existem alguns princípios de base comuns às várias linhas de prática, e estes princípios são orientadores. Mas não há regras estritas e generalizadas. Há interpretações que são “vendidas” como verdades absolutas, mas na verdade são só interpretações. É sempre conveniente perceber os princípios por detrás das recomendações, bem como percebermos quão é que nos identificamos com uma dada interpretação, antes de a trazermos para a nossa casa e para a nossa vida! Ainda para clarificar a diversidade dentro do que se costuma chamar de “Feng Shui”, devo dizer que existem outras abordagens, desenvolvidas no seio de outras culturas, que facilitam a “harmonização de ambientes”. E porque as suas propostas se podem unir num objectivo comum, muitas vezes são colocadas sob o chapéu do Feng Shui! Mas práticas como a Geobiologia, a Clarificação de Espaços, ou a Organização de Espaços, apesar de complementares, são práticas independentes. Para algumas pessoas o Feng Shui é considerado uma ciência – e pode sê-lo, enquanto corpo de conhecimentos, mas não é uma ciência exacta. Uma mesma influência energética pode ter um efeito potencial, mas cada pessoa tende a experimentar esse efeito de um modo subjectivo. O Feng Shui é mais uma arte, enquanto prática que requer sensibilidade e domínio de técnicas especificas, necessárias para captar e ajustar informação subtil. Quem se torna adepto de alguma das abordagens de Feng Shui, fá-lo porque experimenta e observa os resultados! Tal como mencionei atrás, os princípios de Feng Shui seguem a mesma cosmovisão da MTC (da qual a prática mais conhecida é a Acupunctura), e como ela é validado pelos efeitos. Nas nossas casas, as propostas de Feng Shui podem incluir a troca de funções entre divisões, a mudança da posição da cama, ajustes na iluminação, ou a colocação estratégica de plantas ou de alguma imagem significativa, só para referir alguns exemplos. Por outro lado não é necessário colocar moedas chinesas, estatuetas de Buda, ou qualquer outro símbolo ou elemento exótico! Sim, há linhas de Feng Shui que as recomendam, e claro, se gostares de uma decoração mais “zen” podes criá-la. Mas em última análise isso não é necessário! É importante, isso sim, que te sintas bem com as alterações propostas, que estas despertem em ti sentimentos positivos, e não o contrário! Em todo o caso, é sempre bom lembrar que Feng Shui não é decoração. A aplicação de Feng Shui tende a criar uma ambiente sensorialmente harmonioso, mas o seu foco não está em criar beleza ou em “dar estilo” à casa. O Feng Shui pode operar ao nível da decoração, mas nas nossas casas tem o papel de ajudar a criar um ambiente “energeticamente funcional” para quem nele vive. Finalmente, importa referir que o Feng Shui não tem apenas um carácter utilitário. Os princípios de Feng Shui sugerem uma forma de estar em harmonia com a Natureza, ganhando assim a dimensão de filosofia de vida. Nós, seres humanos, somos parte do mundo natural. Mas quantos de nós o sentem efectivamente? Quando pensamos em “Natureza” é fácil vir às nossas mentes imagens de “vida selvagem”, da qual a nossa “vida civilizada” parece afastada... Ora o Feng Shui nasceu da observação dos fluxos naturais, da busca para encontrar “o bom lugar”, em harmonia com o Todo. Desta forma, inspirados pela sua proposta original, podemos observar nos princípios de Feng Shui uma via de reconexão com a Natureza. Espero muito ter-te trazido clareza sobre este tema e ter desmistificado alguns conceitos sobre esta prática. Há muito mais para explorar claro, este é apenas um ponto de partida. Talvez tenhas vontade de experimentar, essa é certamente a melhor forma de realmente conheceres esta prática e de usufruíres dos seus efeitos.
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